terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ELECTRA GLIDE IN BLUE (1973)















Pode-se começar a perceber que Electra Glide in Blue não é um filme banal pela altura em que Guercio manda a investigação do homicídio às urtigas e inicia outras investigações e outros vôos. Para mim foi assim. Antes disto, pensava para comigo que era uma "lição de estilo para os manos Coen" e não sei quê. Expectativas criadas pelas inundações académicas constantes dos três actos, das retóricas, códigos e convenções de género e o diabo a quatro e que não têm nada que ver com o que se faz, quando o que se faz é de alguma qualidade... seja de género ou não.

Porque a coisa não é um truque qualquer de fintas aos códigos narrativos, o filme é o que é desde o princípio e desde o princípio sabe ao que vai e como vai terminar. Que possamos ver aquela investigação arquivada, olhar para o tempo do filme, ver que ainda faltam vinte minutos e pensar "olha... que inteligente, trocou-nos as voltas", só mostra quão mal-habituados estamos a ver filmes. Portanto, acuso-me desde já.

Wintergreen grita ao detective iluminado, o ecrã vai para negro. Fade in... Está o amigo a tocar piano, Wintergreen reaparece e há um confronto terrível e só por esta altura é que eu percebo? Quando já antes o mesmo Wintergreen (fabuloso Robert Blake) falava de vozes interiores e solidão ao varredor do recinto de um qualquer festival, quando já antes a empregada de bar, amante de dois, enlouquecia brutalmente quando falava dos sonhos e dos amores perdidos, com o detective iluminado e Wintergreen a assistir sem saberem o que fazer. Pobres coitados. Aquela cena dura quê, 10 minutos? Jesus. E eu sem conseguir ver que o que me estavam a mostrar, era um "não, pá, isto pode acontecer, isto pode ser a vida das pessoas. Este é o John Wintergreen e só precisava de uma visita e de um abraço de vez em quando..."

Não, quando começa o último plano e a câmara se afasta durante o que parece uma eternidade rumo às "estradas sem fim dos anos 70", plano "tão tão eternizante que as cores até aí bem expressivas se dissipam a pretos e a brancos rumo a uma fossilização", não, aí não podem haver mais dúvidas...

Monumento.

2 comentários:

José Oliveira disse...

Já somos alguns.

João Palhares disse...

O filme merece. Obrigado por descobrires esta maravilha e obrigado ao Chico pela sessão.