quinta-feira, 28 de abril de 2011

2ª série dos Planos (X)


I / II / III / IV / V / VI / VII / VIII / IX

Uma vez por semana, convido bloggers a escolher um plano e a falar, também, sobre ele. O décimo convidado é o Victor Afonso d' O Homem que Sabia Demasiado, que escolheu o último plano desta sequência de The Shining, de Stanley Kubrick.


"Kubrick sempre foi um esteta das imagens, um observador geométrico dos enquadramentos e dos planos minuciosamente estudados. Em "The Shining" estas qualidades são particularmente evidentes. Não é tanto pelo virtuosismo da realização e da montagem, é também pela forma como Kubrick encena determinadas cenas, desafiando a toda a hora o olhar do espectador. O plano do labirinto é sintomático: Jack aproxima-se de uma maqueta do labirinto em cima de uma mesa, situada no grande salão do Overlook Hotel. De repente, no plano seguinte, o espectador "vê" o labirinto pensando que se trata do mesmo que Jack está a olhar. Nada mais errado. O que o espectador vê é um plano fixo aéreo desse labirinto. Paulatinamente, a câmara vai-se aproximando (zoom in) até que damos conta que bem no meio do labirinto estão Danny e a mãe. Já não era o labirinto artifical, da maqueta. Era o labirinto "real" onde estavam os dois personagens. Este plano é um prodigioso momento de cinema, de insuperável criatividade na construção da ilusão deste plano e, por inerência, do cinema em si mesmo." (Victor Afonso)

O próximo convidado é o Ricardo Lisboa.

Um terramoto...



... ainda não sei bem o que dizer..

segunda-feira, 25 de abril de 2011

2ª série dos Planos (IX)


I / II / III / IV / V / VI / VII / VIII

Uma vez por semana, convido bloggers a escolher um plano e a falar, também, sobre ele. O nono convidado é o Filipe Coutinho, do Cinema is My Life, que escolheu dois planos, um de Peeping Tom, de Michael Powell e outro de L'armée des ombres de Jean-Pierre Melville.

***

"Quando se dedica parte da vida ao estudo das artes cinematográficas, quando se vêm, dia após dia, filmes e mais filmes, tão distintos quanto a sua própria natureza, torna-se fundamentalmente impossível escolher um só plano. Essa premissa já todos temos em mente quando aceitamos o desafio do João. A questão que se põe a seguir é: mas então, conhecendo as dimensões herculeanas da tarefa, que plano escolher? Devo escolher o plano de um clássico? De um estrangeiro? De uma fita pouco conhecida? Ou de uma célebre? O que quero eu dizer ao escolher aquele plano? A quem vai afectar? Será um exercício de mera curiosidade? Ou despoletará um desejo em descobrir a fita? O cinema é pensado, repensado e, não raras vezes, demasiado racionalizado, não só para quem o faz mas também para quem o vê. Por vezes, a ânsia em descobrir a genialidade é tanta que o processo emocional fica de parte e não se sente o filme, a sua vivaciadade vive da quantidade de racionalidade posta pela audiência.

Nesse sentido, e não querendo fugir às regras, decidi escolher dois planos distintos cuja antítese os aproxima e, em instância última, fala do cinema, um de uma perspectiva mais negra e, se quisermos, com tendências mais naturalistas; o outro com uma mensagem de esperança, uma crua imagem não magnificamente composta que resume um filme de mais de duas horas com um plano em que duas mãos se agarram, como quem agarra a vida. Falo, respectivamente, de Peeping Tom (1960), de Michael Powell, e L'armée des ombres (1969) de Jean-Pierre Melville, ambos filmes que deveriam ter resistido ao teste do tempo mas, por uma ou outra razão, andaram longe dos corredores do sucesso.


O voyeurismo de Peeping Tom quase levou Michael Powell à falência e aquele que hoje ainda é ofuscado por Rear Window ou Vertigo (filmes inegavelmente admiráveis) detém uma mensagem (ou antes, uma afirmação) bem mais real, mais assustadoramente real. Exemplo perfeito é aquele começo de fita, que tecnicamente são dois planos com um corte escondido pelo meio, mas o olho que se abre de forma vivaz, como que a ter uma epifania, e somos “presenteados” com a mesma: um homem torturado pelo pai em criança filma a morte das suas vítimas porque acredita no realismo e na beleza das suas reacções, as mais verdadeiras de todas, o cinema verité por excelência macabra. Esta junção de ideias torna este cinema de Michael Powell verdadeiramente avassalador, especialmente pela forma como acredita na natureza do ser humano, ou talvez, ele veja-a de forma mais críspida e límpida. E as pessoas não gostam. Peeping Tom é hoje proclamado como o primeiro slasher da história do cinema. Parece-me mais uma desculpa para o desnquadrar do naturalismo a ele associado. Mas seja como for, deixo a primeira sequência, os dois planos que dão azo a um sadismo voyeur, uma poderosa e perigosa combinação que incomoda pelas verdades que vai dizendo.

***

No que à obra de Mellville diz respeito, destaco o plano, em que Lino ventura, um dos principais homens da resistência francesa, escapa a um sadista jogo Nazi. O sadismo existe também no cinema de Melville mas é aqui contra-posto por uma mensagem de esperança, uma imagem simples mas poderosa que eleva a condição do toque humano a novas proporções. Tudo o que basta para ganhar esperança, para ganhar alento numa luta que parece impossível de vencer é ter uma mão amiga que nos agarra quando o necessitamos. Não que o film e termine em tons positivos. Afinal, Melville sempre preferiu o sarcasmo ao final feliz, mas ali, naquele momento, quando Lino Ventura, desnudado de esperança e fé vê-se forçado a jogar um jogo de vida ou de morte, encontra um chamamento, e é precisamente isso, que o cinema, enquanto potenciador de cultura, faz... e melhor que qualquer outra arte.


O cinema pode ser negro, pesado mas, em instância última, e em contra-posição de tudo o que é mau e vilipendioso, o cinema é uma mensagem de esperança. E aquele plano de Melville, embora tão simples e rudimentar resume o filme, e resume mais de 100 anos de história do cinema.

Powell e Melville, inglês e francês, falam línguas diferentes, também no cinema, mas de uma forma ou de outra, estão tão paradoxalmente próximos quanto as mensagem que querem transmitir." (Filipe Coutinho)

O próximo convidado é o Victor Afonso.

sábado, 23 de abril de 2011



Red Hot Riding Hood (1943)

Avery e as linhagens da animação corrosiva


Vendo as curtas mais desvairadas de Tex Avery afiguram-se nos como inevitáveis as criações de séries como The Simpsons, Family Guy e South Park. Olhando com atenção, e comparando, não se vêem grandes diferenças, dando-se mais valor a Avery por condensar tanta coisa em desenhos de 7 minutos. De resto, parece-me haver mais violência nas curtas de Tex Avery do que em todas as temporadas de Family Guy. Essa violência, corrosiva, está no comportamento e nos gestos das personagens, que são impulsivas, instintivas e excêntricas. É muito difícil acreditar que grande parte destas animações tenham escapado às garras da censura, nos anos 40 e 50.

Avery, génio




terça-feira, 19 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

2ª série dos Planos (VIII)


I / II / III / IV / V / VI / VII

Uma vez por semana, convido bloggers a escolher um plano e a falar, também, sobre ele. O oitavo convidado é o Luís Mendonça, do CINEdrio, que escolheu o fabuloso plano de abertura de Halloween, de John Carpenter.



"Não vou ser subtil na minha escolha. Se há filme que sabe converter em performance o perverso jogo entre a objectividade vs. a subjectividade cinematográficas então esse filme é "Halloween", magistral exercício de câmara de Carpenter. Cá está um filme "pensado em planos", que vive de uma estrutura ("conceptualizante") assente no que é mostrado dentro e fora da perspectiva de Myers, até ao ponto crítico em que o dentro (subjectivo) e o fora (objectivo) se anulam mutuamente perante a ausência da imagem estável do corpo do vilão ou de um rosto que "humanize" o mal - é isso que procuramos ao longo de todo o filme, como, desde logo, durante este enorme plano-sequência. Esta tensão - entre o eu de Myers, o eu da objectiva e o eu-eu espectador - é a primeira e a última agressão fenomenal da obra-prima de Carpenter." (Luís Mendonça)

O próximo convidado é o Filipe Coutinho.

sábado, 2 de abril de 2011