domingo, 25 de julho de 2010

Noites na TCM (2)



O zapping é uma coisa maravilhosa, não me queiram fazer pensar o contrário. Foi ele que me fez descobrir a sequência final do filme de Antonioni, antes de saber sequer quem era Antonioni e enquanto via Cronenbergs e Carpenters, na Sic Radical.

Anos depois então, veio Zabriskie Point, o monumento anti-establishment de Michelangelo Antonioni com o despojamento material e social que sugere, à superfície, a sua última sequência. Rebelião juvenil, pergunto. É Zabriskie Point um simples apontar o dedo às hipocrisias da sociedade de consumo e um abraço à causa estudantil, ou também se aponta o dedo a esta última? Perceba-se, então, que anti-establishment é, não em relação a um, mas a todo e qualquer establishment, a toda e qualquer ordem, a toda e qualquer resposta. É a revolução artística, é a circundante - cíclica - questão da existência e é por isso que rebenta connosco, como disse aqui o João nos comentários. É, dentro da filmografia de Antonioni, o filme que mais segredos persiste em não revelar, o mais enigmático.

Depois das explosões, de vários ângulos, a panorâmica impossível e as mais belas imagens em slow motion que o Cinema produziu não mais se olham as coisas da mesma maneira. Começa com os soares e ressoares da percussão de Nick Mason, do orgão de Richard Wright e do baixo de Roger Waters (pode não ser este o alinhamento, não faço ideia) e progride numa calmia impossível por acabar numa agitação sem concessões. É uma gestão rítmica do plano, da sequência, que não tem nome nem se ensina por ser irreproduzível, pois claro, e por se construir na base do segredo e do enigma - a encenação invisível. Quando a sucessão dos planos e das sequências não se dá nos domínios do lógico nem do ilógico, dá-se em que domínios? Hoje, deu-se me como certo que Antonioni (como Bresson) trabalhavam a um nível superior da Montagem...

O primeiro Antonioni nunca se esquece...

Zabriskie Point é o mais belo e sublime filme do Mundo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Noites na TCM (1)




Soylent Green não é uma obra-prima, nem sequer um grande filme. Tem é esta introdução maravilhosa - conheci-a antes de conhecer o filme em zappings pela TV e perseguiu-me por uns tempos - com a música espantosa de Fred Myrow e a sucessão trepidante de imagens apocalípticas, talvez com alguns maniqueísmos desnecessários, mas não me importo. É demagógico demais, politicamente, e é um filme de twist, como o "Planet of the Apes", mas é-me impossível não gostar dele, essencialmente pela introdução, como já disse, e a encenação (comovente) da morte de Edward G. Robinson - foram sentimentos genuínos os que a câmara de Fleischer captou - o soylent green do título pouco importa...

terça-feira, 20 de julho de 2010



Gone fishin' for a week
Well I put down my bush
'n I took of my pants 'n felt free
The breeze blowin' up me 'n up the canyon
Far as I could see

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Planos (XIII)



"Les Herbes Folles" de Alain Resnais

Há algo de tão doce e de tão maléfico, neste filme...

domingo, 11 de julho de 2010

Petição


Luís Mendonça, autor do blogue CINEdrio publicou uma série de posts de indignação em relação à política de programação de Cinema (mas não só) da actual direcção da RTP2. Foi dele que nasceu a ideia de uma petição à qual se juntaram, depois, Miguel Domingues (I, II), Carlos Natálio (I), João Paulo Costa e Ricardo Lisboa (I, II). Há, ainda, um debate aqui.

A programação de um canal de televisão que se pensa alternativo (ou de alternativa), dedicado à Arte e à Cultura, não pode ser a que tem praticado. Passam filmes uma vez por semana, normalmente; quando o "5 para a Meia Noite" está de férias lá programam eles uns filmes e é "lá programam" porque não há critério: repetem-se vários filmes no espaço de um ano (Woodstock, Rio Bravo, Magnolia - para citar só alguns), as sessões duplas pensam-se das mais preguiçosas e desleixadas das maneiras, seja por actor, realizador, nacionalidade - às vezes nem relação há, entre filmes - sem respeito a formatos (filmes em CinemaScope exibidos em 4:3), nem sei se o "Zabriskie Point", este Sábado, passou em panorâmico ou não... (já agora, houve reacções bastante favoráveis, na blogoesfera, à Sessão Dupla desta semana: I, II, III)

Já me juntei à petição, por achar que muito mais podia ser feito naquele canal que, ainda assim e convenhamos, é o melhor que temos. Nunca vi filmes da enigmática "5 Noites, 5 Filmes" nem as apresentações de Bénard da Costa e, hélas, nunca a RTP2 me fez descobrir um filme, um realizador ou incentivou a criatividade, a sede de cultura, enfim..

Propostas tenho poucas (o Ricardo Lisboa, no primeiro post que dedicou à petição, tem bastantes), mas o caminho poderá ser uma maior comunicação com o próprio meio cinematográfico, em Portugal; um crítico residente a apresentar as sessões, convidados também. Se se faz um ciclo sobre o Cinema Novo, porque não convidar realizadores e técnicos para o apresentar, porque não fazer um documentário? Se se programa um filme (seja ele qual for), porque não contextualizá-lo, porque não torná-lo acessível a mais pessoas que, porventura, o adorariam ver e descobrir? Porque não restaurar e programar "filmes silenciados" por distribuidoras, como o "Xavier" ou o "Jaime" e lembrar Manuel Mozos e António Reis, autores desses filmes? Porque não a associação a escolas, a Festivais e a Cineclubes? Talvez não haja meios, não sei, mas para melhor que o que se tem visto, há de certeza... Digamos e façamos qualquer coisa antes que os anos passem a voar e a situação piore, não nos contentemos com uma programação que, apesar de "de qualidade" é dispersa e insuficiente, repetitiva e infundada.. Para se juntarem à Petição basta enviar um mail para peticaortp2@hotmail.com com, pelo menos, as seguintes informações: nome, idade, mail e residência. Senão, Goodbye Sober Day, the years grew wings and flew away... Não deixemos fugir esta oportunidade! Vamos a eles!